domingo, 15 de março de 2015

Resenha: A Última Carta de Amor, de Jojo Moyes


(…) Quero viver bem, desejo que você se orgulhe de mim. Se tudo o que nos é permitido são horas, minutos, quero ser capaz de gravar cada um deles na memória com perfeita clareza para poder recordá-los em momentos como este, quando minha alma está sombria.
Goste dele, se precisar, meu amor, mas não o ame. Por favor não o ame.

Egoisticamente seu,
B. “


Escrito pela britânica Jojo Moyes em 2010, mas somente publicado no Brasil em 2012, A Última Carta de Amor conta duas histórias, que aparentemente não tem nada em comum, mas que ao fim, acabam se interligando. A primeira história se passa em 1960, Jennifer Stirling após um acidente de carro não consegue se lembrar de nada. Ao retornar para casa, ela tenta recuperar sua memória, ao mesmo tempo que percebe que algo não vai bem em sua vida conjugal. É nesse momento que encontra uma série de cartas de amor, endereçadas a ela e assinadas por alguém que se denomina apenas “B”, nota então que estava vivendo um romance fora de seu casamento e que estava disposta a largar toda a sua vida para continuar esse amor. Quarenta anos depois, Ellie Haworth, jornalista, ao procurar matérias para escrever em seu jornal, acha as cartas de amor enviadas de “B” para Jennifer e acaba por se envolver emocionalmente com as cartas, de modo que passa a procurar os protagonistas dessas declarações.

Esse foi o primeiro livro publicado pela Editora Intrínseca no Brasil da escritora, depois precedido por “Como eu era antes de você (2013) ” e “A garota que você deixou para trás (2014)”, e agora o mais recente “Um mais um (2015)”.

Ao alternar as duas narrativas, em momentos históricos diferentes, passamos a acompanhar duas fortes – ainda que de maneiras diferentes - personagens femininas. Porém, a autora faz questão de deixar claro que não é só porque as duas personagens, Jennifer e Ellie, são protagonistas e heroínas da história, que não cometem erros e estão, como todas as pessoas reais, sujeitas a imperfeições e falhas de julgamento. Jennifer comete adultério durante o seu casamento e Ellie se relaciona com um homem casado, entretanto, em nenhum momento a autora tenta julgá-las e impor um senso de moral, tentando convencer o leitor de que as atitudes tomadas por elas estivessem erradas. Assim, nas mãos de um autor um pouco menos competente, os personagens do livro poderiam se tornar facilmente caricatos. Mas Jojo Moyes tem a competência suficiente para transformá-los em personagens fortes e complexos.

E é justamente esse um dos grandes pontos fortes do livro: Seus personagens. Criamos rapidamente uma sensação de identidade com eles, e uma forte empatia: Não são completamente vilões, e tampouco completamente heróis. Todos são suscetíveis de erro e a história faz bem ao evidenciar seus defeitos e qualidades.

Entretanto, o livro comete alguns erros. O principal deles me incomodou até o final: a ausência de datas. Ora, a história pode ser dividida em até três momentos diferentes, porém, essa passagem de tempo é feita no livro de modo quase instantâneo, sem dar qualquer aviso ao leitor. De repente, muda-se o período, e o leitor sequer consegue compreender se a linha temporal mudou de dia, ano ou década. Somente após ler quase metade de um capítulo é que pude compreender a narrativa da história, conseguindo posicionar os acontecimentos dentro da linha do tempo. Assim, para uma história cuja linha do tempo pode ser dividida em até três momentos diferentes, a autora falha em nos delimitar esses período, dificultando o entendimento temporal da história.

A autora também descreve muito superficialmente os espaços, expressando somente palavras genéricas como “grande” e “imponente”, deixando o resto a cargo de nossa imaginação. Ela prefere dar uma maior atenção a diálogos desnecessários e longos, que muitas vezes nada adicionam a história, somente resultando em uma leitura mais cansativa.

Esses pequenos erros, porém, em nada diminuem a experiência da leitura. Apesar de ser escrito em terceira pessoa, consegue adentrar o interior dos personagens, descrevendo suas sensações e sentimentos, a tal ponto que não só nos identificamos como também nos emocionamos.

E, apesar de a história estar rodeada de clichês (que, não me entendam mal, em nada diminui o livro), a autora ainda consegue surpreender em certos momentos. Quando pensamos que sabemos por onde a história irá seguir, ela dá uma volta e nos surpreende. Surpresas essas que não sooam superficiais e se harmonizam perfeitamente com a narrativa.


E, é claro, que não podemos deixar de comentar sobre as cartas de amor. Lindas e profundas, te dão uma sensação de desalento e, como Ellie, passamos a temer de que ninguém nos ame tanto assim. Você acaba o livro com uma enorme vontade de se apaixonar. E de escrever cartas.

P.S.: Caso você se interesse, fizemos tanto a resenha crítica de outro livro da autora Jojo Moyes, A Garota que Você Deixou para Trás. Vale a pena conferir!


 - Mariana Estrela.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Top 5: Melhores Livros de 2014

2014 já acabou, porém, resolvemos ranquear os cinco melhores livros lidos por nós, Bia e Mariana, durante o ano. São apenas recomendações rápidas e esperamos que vocês aproveitem!

Melhores Livros de 2014, por Mariana Estrela:


Confesso que esse ano li livros bem medianos, os melhores livros que li foram, por incrível que pareça, logo no início de 2014. Resolvi colocar na ordem, do melhor livro de 2014, até o menos impressionante da lista, mas que ainda assim vale muito a pena conferir! Espero que gostem!

1. O Ancião que Saiu pela Janela e Desapareceu.

Além do ótimo título, que chama a atenção logo de cara, a história é simplesmente sensacional. Não só está como o melhor livro que li em 2014, mas como também um dos meus favoritos de todos os tempos! É uma cómedia em que podemos vivenciar os maiores acontecimentos dos últimos 100 anos de maneira completamente inusitada. Um dia pretendo fazer uma resenha desse livro para o blog, mas sequer sei se qualquer coisa que eu escreva vá fazer jus ao livro. Enfim, indico a todos, inclusive, já dei de presente à alguns amigos, na tentativa de fazer com que eles se apaixonem por esse livro como eu me apaixonei.

2. 1984
Foi o primeiro livro que eu li esse ano e só posso dizer isso: GENIAL! Já conhecia a genialidade do George Orwell por “Revolução dos Bichos” , mas esse livro realmente te marca. Orwell consegue, mesmo em um futuro distópico, te fazer adentrar dentro da história e da psicologia dos personagens, consegue te fazer criar empatia e, enquanto isso, você está pensando: e se você eu, vivendo nesse mundo? O que aconteceria? Enfim, realmente recomendo demais, é um daqueles livros que você simplesmente TEM que ler!


3. O Príncipe da Névoa

Eu sou apaixonado por Carlos Ruiz Zafón desde "A Sombra do Vento" - que também está entre os meus favoritos de todos os tempos. Me surpreendi um pouco com esse livro do Zafón pois ele claramente é infanto-juvenil, mas ao mesmo tempo trás indícios de outros livros mais maduros dele. Zafón, como sempre, consegue criar uma atmosfera de suspense e drama, a ponto de você conseguir se sentir dentro da história. É um livro pequeninho, você consegue ler em um dia até se tiver disposição, e realmente desperta várias emoções em você. Na lista para 2015 já está o outro livro da série: O Palácio da Meia Noite.

4. O Médico e o Monstro
Um livro pequeninho, também, que você consegue facilmente terminar de ler em algumas horas. Acredito que todos já conheçam a história, considerando que é um clássico da literatura mundial, mas ainda assim, você consegue se surpreender com a história e com o modo pelo qual o suspense é construído.





5. O Vendedor de Histórias. 

Nem de longe é o meu preferido do Jostein Gaarder, mas confesso que esse livro me marcou não pela história principal, mas pelas secundárias. A premissa é simples, mas ao mesmo tempo genial: O personagem principal, Petter, tem uma imagem muito fértil a ponto de criar histórias o tempo todo. Aproveitando-se desse tom, ele resolve vender histórias para escritores. Confesso que o personagem principal não me atraiu em nada, sua personalidade difícil não me trouxe a menor empatia, mas Jostein Gaarder demonstrou sua plena criatividade ao escrever sobre as histórias inventadas por Petter. As histórias são extremamente criativas, muitas vezes de somente algumas páginas, porém muitos superiores a vários livros que já li na vida, e muitas vezes eu pensava: "poxa, eu leria um livro com essa história". E o final: tão surpreendente quanto às histórias inventadas por Petter!

Melhores Livros de 2014, por Beatriz Marques:

Esse top 5 não é só dos melhores que tive a sorte de ler, mas dos melhores que eu gostaria mesmo de indicar! Como algumas pessoas sabem, adoro falar de livro brasileiro, então fico feliz em ter 4/5 do top nacionais.

Vou aproveitar minha própria ordem cronológica de leitura porque o TOC nunca é demais.

1. 1808



Quase todo mundo já deve ter ouvido falar da série do Laurentino Gomes que trata dos impactos da família real no Brasil. Esse é o primeiro livro, o qual acompanha a chegada dessa gente na nossa terra. Gostei da leitura porque é divertida e enriquecedora ao mesmo tempo.









2. Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios.



Mais de um fôlego para ler esse título, um fôlego só para terminar a leitura de suas páginas. Esse livro está resenhado aqui no blog, para quem quiser saber de mais detalhes. É um romance psicológico original e nada ortodoxo. Apreciei muito a personalidade dessa obra.






3. O Bruxo do Contestado.

Um livro mais histórico do que literário. Ambientado no sul do país, o livro fala sobre a Guerra do Contestado na memória da população, mostrando, porém, outras épocas do século XX (posteriores). Essa narrativa também aproveita para ressaltar a repercussão da política nacional no povo brasileiro. Adorei esse livro por apresentar a história sobre a ótica das pessoas comuns.








4. Lisístrata- A greve do sexo.

Esse livro precisa de pouco para chamar a sua atenção! Considerada a primeira obra pacifista de todos os tempos, esse livro super atual e feminista tem apenas 2500 aninhos. É uma comédia grega cujo autor é Aristófanes, filósofo. O livro é cheio de intenções libertadoras para as mulheres, questionado inclusive o sistema patriarcal.








 5. Gaveta Aberta



Um livro de poesias bem diversificado e que pode agradar a todos os públicos. Sensível, original e simples. A leitura proporciona a experiência de vivenciar um mundo de possibilidades em poucos minutos.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Resenha: Gaveta Aberta, de Ítalo Anderson


Pra que coisa melhor do que falar de livro brasileiro? Inaugurando as resenhas de livro de poesia com Gaveta Aberta, de Ítalo Anderson.

Nunca fui uma grande conhecedora de poesias e sempre me angustiei um pouco por não saber onde procurá-las e onde conhecer autores. Eis que por uma enorme sorte se descobre que os bons poetas andam ao seu lado e às vezes cursam o ensino fundamental junto com você!

Ítalo Anderson Clarindo, novo autor brasileiro, estudou com a gente (Mari e eu) durante todo o ensino fundamental. Só agora, porém, temos a oportunidade de conhecer sua obra.

Inicialmente, queria dizer que achei a capa do livro linda e de muito gosto. Antes de dar início à leitura, especula-se sobre a qualidade da obra pela capa, pelo seu título criativo e também pelos nomes dos poemas que vemos do índice do começo. Gaveta Aberta me deu uma sensação de revelações descuidadas, como uma parte de alguém que se revela, não por ser secreta, mas por se permitir ser mostrada (evidentemente, isso é algo bem subjetivo, mas aí mesmo está uma vantagem da linguagem poética!).

Gaveta Aberta é um livro muito sensível, muitos de seus poemas traduzem sentimentos sem nome que temos e não conseguimos nomear ou definir. Há uma abordagem abrangente de temas pelo autor, dando espaço para desde as questões emocionais e existenciais até os sentimentos passageiros e as situações inusitadas. Em todos os poemas, porém, o autor mantém sua simplicidade, marca de sua escrita.


É uma leitura muito agradável e de uma criatividade que salta aos olhos. Tenho certeza que é uma obra agradável para todos os públicos, até mesmo os que não costumam ler poesia. Super recomendo!


Nada melhor do que a leitura para conhecer a essência do livro e do poeta, portanto, termino essa resenha com alguns dos poemas que mais me chamaram a atenção.

-Beatriz

Ítalo possui duas páginas no facebook para quem desejar conhecê-lo melhor.
https://www.facebook.com/GavetaAbertaLivro?fref=ts (página do livro Gaveta Aberta)


Relógio cravejado
Comprou-a um relógio
Todo cheio de pedra
Na feira da catedral
Sussurrava no ouvido
Segurava mão depois da missa
Dizia ser o tal
Te amo, docinho
Fica assim comigo
Te quero tão bem
Acode, painho
O relógio era falso
E o amor também.


Poema fiscal
Meio da rua
Da rua do meio
Centro da cidade
Ouço um tiroteio
Medo de perder a vida
Encontro uma caneta
Inspiração indevida
Ideia fora de hora
Pra não perder o poema
Prum poeta pega mal
Escrevi o bendito
Em uma nota fiscal.


segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Resenha: A Garota que Você Deixou Para Trás, de Jojo Moyers.


Olá caros leitores!


Fico muito feliz em anunciar que temos mais uma colaboradora para o Universo na Estante. O nome dela é Laura Ribeiro, também faz Direito, e nós conhecemos no nosso 1° ano do Ensino Médio. Novamente, o que nos deixou mais unidas foi a leitura e a escrita. Vivíamos trocando livros, cada uma pedindo os livros da outra que achava interessante e depois comentando sobre o que havíamos gostado mais. Suspiramos por muitos personagens, e odiamos outros, juntas. Ok, a quem estamos enganando? Ainda fazemos isso!

E ela já estreia no Blog com uma resenha! Esperamos que vocês gostem!


- Mariana Estrela.

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“Imagine só. [...] O que a gente perde. Só tentando se agarrar a umas poucas coisas.”


Essa frase certamente resume bem esse livro para mim. A história de A Garota que Você Deixou Para Trás fala sobre arriscar tudo por aquilo e por aqueles que ama, mas ao mesmo tempo saber quando se deixar libertar, justamente para se reencontrar.


Este livro é o terceiro da autora Jojo Moyes publicado pela Editora Intrínseca no Brasil. Os outros são “A Última Carta de Amor” e “Como Eu Era Antes de Você”.  Há outros títulos da autora traduzidos para o português, mas é provável que suas edições estejam esgotadas.

A Garota que Você Deixou Para Trás, ou A garota, como você aprende a chamar durante o livro, acompanhaa ligação de duas histórias que é feita por um quadro durante 100 anos, período esse em que ele foi “perdido” e “achado”. O quadro liga a história de duas mulheres: Sophie Lefevré, francesa cuja família está sendo devastada diante da invasão da França pela Alemanha na Primeira Guerra Mundial; e Liv Halston, jovem nos dias atuais em Londres, viúva do amado marido, arquiteto renomado, que lhe presentou com o quadro na lua de mel deles. O quadro é um retrato de Sophie, feito por seu marido Edouard, e ele nos leva por uma viagem à França ocupada pelos alemães e, ao mesmo tempo,muda a vida de Liv para sempre.

Sophie e Liv são personagens diferentes e ao mesmo tempo muito parecidas. A diferença é que para Sophie a vida não oferecia alternativa. Era ser forte ou ser forte, pelo próprio futuro, de seu amado Edouard que estava no front de batalha, e de sua família. Liv, após a morte precoce e súbita de David, o qual ela considerava o seu grande amor, se fecha na casa deles, a Casa de Vidro. A casa, uma das criações de David era, praticamente toda feita de deste material, à beira do rio Tâmisa. A descrição da casa por si só é muito interessante. O material usado na casa é predominantemente vidro, e tudo dentro da casa é minimalista e funcional. David odiava o supérfluo. Os únicos cômodos com o vidro obscurecidos – que não dá para ver de fora para dentro e nem vice versa - são os banheiros, e, nas palavras de Liv, David teve que ser persuadido para que ali também não houvesse a transparência predominante na casa, de se poder ver o que acontece fora, mas não o contrário. Há um teto com uma claraboia retrátil, que revela um céu estrelado para uma Liv, de início, preocupada com as contas que não tem como pagar e na hipoteca da casa, além de, claro, lidar com o vazio e com a mudança que ocorre em sua vida depois que David morre. As duas personagens, entretanto, são muito fortes. Sophie em sua esperança e fé inabaláveis e Liv, como bem diz seu pai, sendo heroína o suficiente para continuar “tocando o barco”. 

Moyes alterna as duas histórias, de épocas e contextos tão diferentes, com maestria, de forma parecida com a que escreveu A última Carta de Amor. Quando você não aguenta de ansiedade para ver o que vai acontecer na nem tão pacata vila de St Péronne, onde Sophie mora, o capítulo seguinte começa a contar a história de uma perdida Liv, que não reconhece mais a si mesma depois da morte do marido e ainda é alvo de amigas que querem lhe ajuda a encontrar um novo amor. Quando então você quer saber o que vai acontecer entre Liv e Paul – Ah, Paul! – se ela finalmente vai se permitir a chance de ser feliz e como os dois vão lidar com a situação do quadro, o próximo capítulo descreve uma Sophie preocupada que esteja colaborando demais com os alemães, mesmo que os seus motivos para ela fossem os mais sagrados e claros possíveis – Edouard e sua família. Colaborar seria a palavra usada pelas idosas fofoqueiras da vila. Sophie e a irmã passaram a cozinhar para os oficiais alemães e isso lhes rendeu uma má fama com seus conterrâneos. Como se elas tivessem outra opção com duas crianças e um adolescente em casa para alimentar, em uma cidade em que quase todos estavam quase em estado de inanição; além de claro, o fato de não ser muito inteligente resistir às “gentis” ordens dos alemães.

É importante dizer, Liv descobre a história por trás do quadro um pouco depois dos leitores. Até um certo momento, ela só sabe que o quadro se chama A garota que Você Deixou Para Trás e que aquele retrato sempre a desperta emoções diversas. Liv não poderia imaginar a história por trás dele, até que um certo Paul McCafferty cruza sua vida. Americano, Paul veio para Londres para tentar ajustar seu casamento com uma inglesa, a qual estava infeliz morando na América. O casamento, entretanto, não dá certo e Paul vive entre visitar o irmão no bar, as visitas de Jake, seu filho e o trabalho. Este é justamente recuperar obras de artes que foram roubadas e perdidas há muito tempo. É claro que Liv não vai lidar bem com isso, ao descobrir que seu amado quadro pode ser tirado de suas mãos e que o responsável por isso possa ser justamente Paul. Há ainda uma interessante dinâmica entre Liv e Mo. Ela é uma antiga conhecida que Liv reencontra ao tentar fugir de um encontro arranjado. Mo é descrita como gótica, é extremamente direta, e divide seu tempo entre ser garçonete em um restaurante – sendo gentil com os bons clientes e armando peças para os não tão bons - e dar assistência a um lar de idosos.

O livro em si não é livre de defeitos. Há falhas, que acredito serem resultado da tradução, mas não posso afirmar com certeza. Há palavras que são colocadas fora do lugar, fazendo o ritmo diminuir um pouco. E há problemas com pronomes, acontecendo de em alguns poucos momentos não se saber sobre quem o narrador está falando. Mas o livro em geral é muito bem escrito, alternando entre duas histórias tão diferentes e ao mesmo tempo tão parecidas. Fala sobre superação, fé, força e aprender a se libertar. É como essas duas mulheres conseguiram ser heroínas ao seu modo.

A garota que você deixou para trás a primeira vista pode parecer contar uma história melodramática – e dessa vez a culpa não é da tradução, que é literal. Mas basta uma folheada inicial para se perceber o equívoco nessa interpretação e aproveitar uma ótima leitura. Não é um livro que você vai esquecer no dia seguinte. Ao acompanhar a realidade dessas duas mulheres e finalizar o livro, senti aquela sensação maravilhosa que se tem quando se lê um livro do qual você não esperava que seria tão bom, que lhe surpreende, e lhe entrega a redenção das duas personagens. Aquela sensação de que as personagens estão vivas, e poderiam estar em algum lugar da Europa, neste exato momento. E que com certeza, o quadro de A garota que Você Deixou Para Trás está encarando alguém neste instante, provocando, respondendo, indagando e inquietando. 


P.s: Apenas depois de ler o livro, descobri que há um conto que precede a história contada no livro. Se chama “Honeymoon in Paris”, e conta justamente a história da lua de mel de Sophie e Edouard, fazendo paralelo com a de Liv e David. Creio que seja mais interessante ler antes do livro, mas a escolha é sua. Foi lançado apenas em e-reader e não creio que tenha sido traduzido para o Brasil. 



    - Laura Ribeiro.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Opinião: E-Readers: Os livros irão realmente acabar?


Sempre olhei com bastante receio as matérias que indicavam que os livros de papéis que conhecemos – e amamos –hoje iriam acabar e que a tecnologia iria substituir as bibliotecas. Como muitos amantes da literatura, amo pegar livros, sentir seu cheiro, observar suas capas e notar as páginas chegarem ao fim. Para muitos é quase um ritual, como uma degustação de vinhos caros e raros. Há algo de tão poético nesse pequeno ritual, que possivelmente não poderia ser descrito em palavras, somente algumas pessoas tem o prazer de sentir a emoção de segurar um livro.

Recentemente, contrariando todas as minhas crenças, comprei um E-reeder.Sim, logo eu, que por muitas vezes tentei explicar aos outros o prazer de sentir o cheiro de um livro novo, me rendi a tecnologia. E ouso dizer: os livros não irão acabar, as livrarias não irão falir e poderemos continuar a sentir o cheirinho de livros. O porquê da minha convicção, explico abaixo.

Primeiramente ressalto que, mesmo após comprar um E-reeder, no caso o Kobo da Livraria Cultura, já cheguei a ir à livraria algumas vezes, já comprando dois livros desde então, com apenas um mês de leitor digital. Como já explicado antes, não acredito que nada possa substituir o ritual de leitura de um livro de papel e, ainda com os preços dos leitores digitais abaixando, as livrarias – Graças a Deus! – continuam lotadas.

A verdade é que os e-reeders são muito práticos, basta um simples toque e o livro já é seu, não precisamos sair de casa, não precisamos esperar alguns dias para que sua encomenda chegue, basta um simples clique e temos todo um universo novo a nossa disposição. Para alguns, entretanto, esse “simples clique” ainda não compensa em termos financeiros: a diferença de preço entre um e-book e um livro de papel ainda é muito pequena. Encontrei, por várias vezes, e-books somente R$ 5,00 ou $ 10,00 mais baratos que livros físicos. Chega a ser um incentivo para ir à livraria: todas as vantagens do livro – além da possibilidade de emprestá-lo, para quem gosta – por uma diferença tão ínfima. Talvez, por esse motivo, o mercado de e-books ainda demore a se desenvolver, poucos vêem vantagens em comprar livros digitais tão caros. A pergunta que se passa na cabeça de todos é a mesma: porque um e-book é tão caro, quando o gasto com sua venda é menor? Não precisa imprimir as páginas, elaborar capas elegantes, pagar impostos, pagar salários dos vendedores ou pagar custos com o transporte e, ainda assim, a diferença entre e-books e livros físicos é quase insignificante. Confesso que não vim aqui responder-lhes essa questão, mas se um dia descobrir, prometo divulgar a resposta.

Você, caro leitor, pode estar pensando nesse momento: mas e os sites que disponibilizam livros grátis? Confesso que baixei alguns livros por esses sites – não estou incentivando a pirataria, juro! – entretanto, encontrei alguns problemas, entre eles:

 
  1. A ausência de livros: não vejam os sites de e-books como livrarias, procurei por vários títulos e não os encontrei. Porque? Simples, eles preferem disponibilizar livros mais famosos, como as famosas séries infanto-juvenis. Não os culpo, é realmente uma maneira de trazer maior público para o site, já que a faixa etária que mais utiliza a Internet e tem uma maior abertura ao conceito de livros digitais, é a de jovens.
  2. Problemas de tradução: Muitos dos livros que eu baixei, não foram traduzidos oficialmente, erros bobos de tradução e até mesmo digitação atrapalham a leitura. A falta de uma edição e correção faz mais falta do que podemos imaginar. 
  3. Livros incompletos: tive problemas com um e-book em particular, em que ele veio sem várias páginas da historia, principalmente em finais de capítulos. Em princípio pensei, inocentemente, que se tratava de um estilo de escrita do autor, depois percebi que não era possível, pois quase nada fazia sentido. Quando fui averiguar, várias páginas do e-book estavam faltando. Acabei perdendo interesse em continuar a leitura.

De qualquer forma, se você não se importa com esses eventuais problemas nesses sites, não sinta medo, vá com fé que você provavelmente vai gostar de ter um E-reeder.

Sinto que, nesse ponto muitos podem estar pensando se eu me arrependo de ter comprovado um Kobo. A verdade é que não, tem me ajudado muito nos meus estudos (estudantes de ciência humanas, principalmente direito, irão adorar, ter como ler todos os livros em pdf, sem precisar imprimir ou tirar xérox). As ferramentas de leitura do Kobo são muito boas, com a possibilidade de procurar o significado das palavras de maneira quase instantânea, marcar frases ou páginas, publicar frases diretamente no seu Facebook, e ainda tem-se a possibilidade de levar para todos os lugares.

E além, uma promessa futura me mantém a esperança de poder aproveitar ainda mais o meu Kobo: A Kindle lançou um sistema, quase como um “Netflix de livros”, você tem acesso a todos os livros do catálogo, por uma taxa mensal. Infelizmente, o sistema só está disponível nos Estados Unidos, mas não acho que demore muito para chegar por aqui.

Se eu acho que esse novo serviço da Kindle irá acabar com os livros físicos? Ainda assim, acho que não. Somente quem tem uma pequena biblioteca em casa sabe a alegria de vê-la aumentando, e ainda temos muitos leitores conservadores, que não trocam as páginas amareladas dos livros por brilho de tela nenhum. Mas acho que esse serviço possa ajudar os leitores: as editoras podem se sentir obrigadas à abaixarem os preços dos livros físicos, e - porque não sonhar mais alto? – o governo pode até mesmo diminuir os impostos.

Para os mais ligados à tecnologia: experimentem os E-reeders, as possibilidades de leitura deles são muitas! Para os mais conservadores: os e-books estão bem longe de substituir os livros físicos – se isso um dia vier a acontecer, não se preocupem!

Para finalizar, um textinho, em que o Ariano Suassuna fala, de maneira até engraçada, sobre a "revolução dos e-books":

Ariano nunca cedeu ao computador. Nem à máquina de escrever. Preferia tecer à mão os seus belos textos literários. Por isso, foi convidado a participar de um evento no Recife, onde seriam apresentados os avanços da informática e, de quebra, a presumível morte do livro, decretada pelo advento do maravilhoso e-book.


— Quando o japonês mostrou toda aquela parafernália - contou-me Ariano - eu indaguei: "Então é nisso que vou ler livros? E quando quiser ir ao banheiro, carrego junto essa joça? Levo isso para a cama a fim de ler antes de dormir? E se cai no chão? E se a energia acaba?" O japonês ficou apertado de costura, insistindo em justificar o avanço da tecnologia. Propus um teste: "Já que você diz que vamos fazer livros nesse troço aí, vamos ver como ele escreve textos. Redija aí o meu nome: Ariano Villar Suassuna." O japonês digitou o Ariano e o bicho aceitou. Digitou o Villar e o diabo fez aparecer o corretor apontando erro e sugerindo vocábulo aproximado - "Vilão". Em seguida, digitou Suassuna. Mesma coisa. O vocábulo aproximado era "Assassino". Eu disse: "Como vou escrever numa coisa que me chama de Ariano Vilão Assassino?"

P.s.: Dei de presente para minha mãe um Kindle, e ela simplesmente adorou! Olha só a surpresa ao ver uma leitora conservadora se render ao apelo dos e-books!