Olá caros leitores!
Fico muito feliz em anunciar que temos mais
uma colaboradora para o Universo na Estante. O nome dela é Laura Ribeiro,
também faz Direito, e nós conhecemos no nosso 1° ano do Ensino Médio.
Novamente, o que nos deixou mais unidas foi a leitura e a escrita. Vivíamos
trocando livros, cada uma pedindo os livros da outra que achava interessante e
depois comentando sobre o que havíamos gostado mais. Suspiramos por muitos
personagens, e odiamos outros, juntas. Ok, a quem estamos enganando? Ainda fazemos
isso!
E ela já estreia
no Blog com uma resenha! Esperamos que vocês gostem!
- Mariana Estrela.
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“Imagine só. [...] O que a gente perde. Só tentando se agarrar a umas
poucas coisas.”
Essa frase certamente resume bem
esse livro para mim. A história de A Garota que Você Deixou Para Trás fala
sobre arriscar tudo por aquilo e por aqueles que ama, mas ao mesmo tempo saber
quando se deixar libertar, justamente para se reencontrar.
Este livro é o terceiro da autora
Jojo Moyes publicado pela Editora Intrínseca no Brasil. Os outros são “A Última
Carta de Amor” e “Como Eu Era Antes de Você”.
Há outros títulos da autora traduzidos para o português, mas é provável
que suas edições estejam esgotadas.
A Garota que Você Deixou Para Trás,
ou A garota, como você aprende a chamar durante o livro, acompanhaa ligação de
duas histórias que é feita por um quadro durante 100 anos, período esse em que
ele foi “perdido” e “achado”. O quadro liga a história de duas mulheres: Sophie
Lefevré, francesa cuja família está sendo devastada diante da invasão da França
pela Alemanha na Primeira Guerra Mundial; e Liv Halston, jovem nos dias atuais
em Londres, viúva do amado marido, arquiteto renomado, que lhe presentou com o
quadro na lua de mel deles. O quadro é um retrato de Sophie, feito por seu
marido Edouard, e ele nos leva por uma viagem à França ocupada pelos alemães e,
ao mesmo tempo,muda a vida de Liv para sempre.
Sophie e Liv são personagens
diferentes e ao mesmo tempo muito parecidas. A diferença é que para Sophie a
vida não oferecia alternativa. Era ser forte ou ser forte, pelo próprio futuro,
de seu amado Edouard que estava no front de
batalha, e de sua família. Liv, após
a morte precoce e súbita de David, o qual ela considerava o seu grande amor, se
fecha na casa deles, a Casa de Vidro. A casa, uma das criações de David era, praticamente
toda feita de deste material, à beira do rio Tâmisa. A descrição da casa por si
só é muito interessante. O material usado na casa é predominantemente vidro, e
tudo dentro da casa é minimalista e funcional. David odiava o supérfluo. Os
únicos cômodos com o vidro obscurecidos – que não dá para ver de fora para
dentro e nem vice versa - são os banheiros, e, nas palavras de Liv, David teve
que ser persuadido para que ali também não houvesse a transparência
predominante na casa, de se poder ver o que acontece fora, mas não o contrário.
Há um teto com uma claraboia retrátil, que revela um céu estrelado para uma
Liv, de início, preocupada com as contas que não tem como pagar e na hipoteca
da casa, além de, claro, lidar com o vazio e com a mudança que ocorre em sua
vida depois que David morre. As duas personagens, entretanto, são muito fortes.
Sophie em sua esperança e fé inabaláveis e Liv, como bem diz seu pai, sendo
heroína o suficiente para continuar “tocando o barco”.
Moyes alterna as duas histórias,
de épocas e contextos tão diferentes, com maestria, de forma parecida com a que
escreveu A última Carta de Amor. Quando você não aguenta de ansiedade para ver
o que vai acontecer na nem tão pacata vila de St Péronne, onde Sophie mora, o
capítulo seguinte começa a contar a história de uma perdida Liv, que não
reconhece mais a si mesma depois da morte do marido e ainda é alvo de amigas
que querem lhe ajuda a encontrar um novo amor. Quando então você quer saber o
que vai acontecer entre Liv e Paul – Ah, Paul! – se ela finalmente vai se
permitir a chance de ser feliz e como os dois vão lidar com a situação do
quadro, o próximo capítulo descreve uma Sophie preocupada que esteja
colaborando demais com os alemães, mesmo que os seus motivos para ela fossem os
mais sagrados e claros possíveis – Edouard e sua família. Colaborar seria a
palavra usada pelas idosas fofoqueiras da vila. Sophie e a irmã passaram a
cozinhar para os oficiais alemães e isso lhes rendeu uma má fama com seus
conterrâneos. Como se elas tivessem outra opção com duas crianças e um
adolescente em casa para alimentar, em uma cidade em que quase todos estavam
quase em estado de inanição; além de claro, o fato de não ser muito inteligente
resistir às “gentis” ordens dos alemães.
É importante dizer, Liv descobre
a história por trás do quadro um pouco depois dos leitores. Até um certo
momento, ela só sabe que o quadro se chama A garota que Você Deixou Para Trás e
que aquele retrato sempre a desperta emoções diversas. Liv não poderia imaginar
a história por trás dele, até que um certo Paul McCafferty cruza sua vida. Americano,
Paul veio para Londres para tentar ajustar seu casamento com uma inglesa, a
qual estava infeliz morando na América. O casamento, entretanto, não dá certo e
Paul vive entre visitar o irmão no bar, as visitas de Jake, seu filho e o
trabalho. Este é justamente recuperar obras de artes que foram roubadas e
perdidas há muito tempo. É claro que Liv não vai lidar bem com isso, ao
descobrir que seu amado quadro pode ser tirado de suas mãos e que o responsável
por isso possa ser justamente Paul. Há ainda uma interessante dinâmica entre
Liv e Mo. Ela é uma antiga conhecida que Liv reencontra ao tentar fugir de um
encontro arranjado. Mo é descrita como gótica, é extremamente direta, e divide
seu tempo entre ser garçonete em um restaurante – sendo gentil com os bons
clientes e armando peças para os não tão bons - e dar assistência a um lar de
idosos.
O livro em si não é livre de
defeitos. Há falhas, que acredito serem resultado da tradução, mas não posso
afirmar com certeza. Há palavras que são colocadas fora do lugar, fazendo o ritmo
diminuir um pouco. E há problemas com pronomes, acontecendo de em alguns poucos
momentos não se saber sobre quem o narrador está falando. Mas o livro em geral
é muito bem escrito, alternando entre duas histórias tão diferentes e ao mesmo
tempo tão parecidas. Fala sobre superação, fé, força e aprender a se libertar.
É como essas duas mulheres conseguiram ser heroínas ao seu modo.
A garota que você deixou para
trás a primeira vista pode parecer contar uma história melodramática – e dessa
vez a culpa não é da tradução, que é literal. Mas basta uma folheada inicial
para se perceber o equívoco nessa interpretação e aproveitar uma ótima leitura.
Não é um livro que você vai esquecer no dia seguinte. Ao acompanhar a realidade
dessas duas mulheres e finalizar o livro, senti aquela sensação maravilhosa que
se tem quando se lê um livro do qual você não esperava que seria tão bom, que
lhe surpreende, e lhe entrega a redenção das duas personagens. Aquela sensação
de que as personagens estão vivas, e poderiam estar em algum lugar da Europa,
neste exato momento. E que com certeza, o quadro de A garota que Você Deixou
Para Trás está encarando alguém neste instante, provocando, respondendo,
indagando e inquietando.
P.s: Apenas depois de ler o
livro, descobri que há um conto que precede a história contada no livro. Se
chama “Honeymoon in Paris”, e conta justamente a história da lua de mel de
Sophie e Edouard, fazendo paralelo com a de Liv e David. Creio que seja mais
interessante ler antes do livro, mas a escolha é sua. Foi lançado apenas em
e-reader e não creio que tenha sido traduzido para o Brasil.
- Laura Ribeiro.