domingo, 15 de março de 2015

Resenha: A Última Carta de Amor, de Jojo Moyes


(…) Quero viver bem, desejo que você se orgulhe de mim. Se tudo o que nos é permitido são horas, minutos, quero ser capaz de gravar cada um deles na memória com perfeita clareza para poder recordá-los em momentos como este, quando minha alma está sombria.
Goste dele, se precisar, meu amor, mas não o ame. Por favor não o ame.

Egoisticamente seu,
B. “


Escrito pela britânica Jojo Moyes em 2010, mas somente publicado no Brasil em 2012, A Última Carta de Amor conta duas histórias, que aparentemente não tem nada em comum, mas que ao fim, acabam se interligando. A primeira história se passa em 1960, Jennifer Stirling após um acidente de carro não consegue se lembrar de nada. Ao retornar para casa, ela tenta recuperar sua memória, ao mesmo tempo que percebe que algo não vai bem em sua vida conjugal. É nesse momento que encontra uma série de cartas de amor, endereçadas a ela e assinadas por alguém que se denomina apenas “B”, nota então que estava vivendo um romance fora de seu casamento e que estava disposta a largar toda a sua vida para continuar esse amor. Quarenta anos depois, Ellie Haworth, jornalista, ao procurar matérias para escrever em seu jornal, acha as cartas de amor enviadas de “B” para Jennifer e acaba por se envolver emocionalmente com as cartas, de modo que passa a procurar os protagonistas dessas declarações.

Esse foi o primeiro livro publicado pela Editora Intrínseca no Brasil da escritora, depois precedido por “Como eu era antes de você (2013) ” e “A garota que você deixou para trás (2014)”, e agora o mais recente “Um mais um (2015)”.

Ao alternar as duas narrativas, em momentos históricos diferentes, passamos a acompanhar duas fortes – ainda que de maneiras diferentes - personagens femininas. Porém, a autora faz questão de deixar claro que não é só porque as duas personagens, Jennifer e Ellie, são protagonistas e heroínas da história, que não cometem erros e estão, como todas as pessoas reais, sujeitas a imperfeições e falhas de julgamento. Jennifer comete adultério durante o seu casamento e Ellie se relaciona com um homem casado, entretanto, em nenhum momento a autora tenta julgá-las e impor um senso de moral, tentando convencer o leitor de que as atitudes tomadas por elas estivessem erradas. Assim, nas mãos de um autor um pouco menos competente, os personagens do livro poderiam se tornar facilmente caricatos. Mas Jojo Moyes tem a competência suficiente para transformá-los em personagens fortes e complexos.

E é justamente esse um dos grandes pontos fortes do livro: Seus personagens. Criamos rapidamente uma sensação de identidade com eles, e uma forte empatia: Não são completamente vilões, e tampouco completamente heróis. Todos são suscetíveis de erro e a história faz bem ao evidenciar seus defeitos e qualidades.

Entretanto, o livro comete alguns erros. O principal deles me incomodou até o final: a ausência de datas. Ora, a história pode ser dividida em até três momentos diferentes, porém, essa passagem de tempo é feita no livro de modo quase instantâneo, sem dar qualquer aviso ao leitor. De repente, muda-se o período, e o leitor sequer consegue compreender se a linha temporal mudou de dia, ano ou década. Somente após ler quase metade de um capítulo é que pude compreender a narrativa da história, conseguindo posicionar os acontecimentos dentro da linha do tempo. Assim, para uma história cuja linha do tempo pode ser dividida em até três momentos diferentes, a autora falha em nos delimitar esses período, dificultando o entendimento temporal da história.

A autora também descreve muito superficialmente os espaços, expressando somente palavras genéricas como “grande” e “imponente”, deixando o resto a cargo de nossa imaginação. Ela prefere dar uma maior atenção a diálogos desnecessários e longos, que muitas vezes nada adicionam a história, somente resultando em uma leitura mais cansativa.

Esses pequenos erros, porém, em nada diminuem a experiência da leitura. Apesar de ser escrito em terceira pessoa, consegue adentrar o interior dos personagens, descrevendo suas sensações e sentimentos, a tal ponto que não só nos identificamos como também nos emocionamos.

E, apesar de a história estar rodeada de clichês (que, não me entendam mal, em nada diminui o livro), a autora ainda consegue surpreender em certos momentos. Quando pensamos que sabemos por onde a história irá seguir, ela dá uma volta e nos surpreende. Surpresas essas que não sooam superficiais e se harmonizam perfeitamente com a narrativa.


E, é claro, que não podemos deixar de comentar sobre as cartas de amor. Lindas e profundas, te dão uma sensação de desalento e, como Ellie, passamos a temer de que ninguém nos ame tanto assim. Você acaba o livro com uma enorme vontade de se apaixonar. E de escrever cartas.

P.S.: Caso você se interesse, fizemos tanto a resenha crítica de outro livro da autora Jojo Moyes, A Garota que Você Deixou para Trás. Vale a pena conferir!


 - Mariana Estrela.